quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Carlos Drummond de Andrade

(...) Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.


Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.


(...) E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.


(Resíduo)



2 comentários:

  1. Sabe, na primeira vez que eu vim aqui até li esse poema [Drummond é meu preferido], mas tinha apenas lido. Hoje eu senti, principalmente nessa parte "o insuportável mau cheiro da memória". Justo hoje que eu acordei desejando não ter memória!

    Obrigada por compartilhar.

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  2. Eu venho querendo não ter memória a bom tempo.

    Grata por compartilhar também.

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